ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA nasceu no Brasil, na cidade de
Salvador, em 27 de abril de 1756 (Prestes, 2000), mas foi educado em Portugal.
Em 1770, aos quatorze anos de idade, matriculou-se na Faculdade de Medicina da
Universidade de Coimbra onde permaneceu por dois anos. Em seguida,
transferiu-se para a Faculdade de Filosofia, na qual, em 1778, obteve sua
titulação em Filosofia Natural (ibidem).
Caracterizado por um perfil multitemático em suas investigações,
foi denominado zoólogo, geógrafo, sociólogo, etnólogo, antropólogo, economista
e agrônomo, pelos diversos autores que escreveram sua biografia.
Apesar
de não concluir o curso de Medicina, escreveu a monografia Enfermidades endêmicas da Capitania
de Mato Grosso contribuindo
para a temática médica, sendo mesmo chamado de "médico" baiano
(ibidem).
Aos 27 anos, recém-egresso da Universidade de Coimbra, foi
indicado por Domingos Vandelli para chefiar uma expedição filosófica organizada,
dirigida e financiada pelo Estado lusitano (Costa, 2001). Alexandre seguiu
imediatamente para Lisboa; entretanto, esperou cinco anos para o início da
expedição. Nesse intervalo se envolveu em atividades relacionadas à História
natural que lhe renderam a eleição como membro da Real Academia das Ciências de
Lisboa (Prestes, 2000).
Em 1783, finalmente, Ferreira partiu para a expedição, considerada
o evento de cunho científico mais importante empreendido por Portugal em solo
brasileiro. A expedição chefiada por ele, na qualidade de naturalista,
estendeu-se pelas capitanias do Grão-Pará, São José do Rio Negro (Amazonas) e
Mato Grosso (Cuiabá).
Durante a viagem, Ferreira deveria estudar a etnografia das
regiões percorridas, relatar e acondicionar os produtos encontrados e cuidar
dos aspectos práticos da expedição.
Foi
acompanhado por dois riscadores, José Joaquim Freire e Joaquim José
Codina, e por um jardineiro-botânico, Agostinho Joaquim do Cabo. Os riscadores
registravam em aquarelas a fauna, a flora, a geografia e a etnografia
brasileiras. Para desenvolver todo o trabalho da expedição, algumas pessoas da
população local eram treinadas para os ofícios de preparadores de animais e
aves, pois tudo havia de ser cuidadosamente coletado, classificado e preparado
para o embarque rumo a Lisboa (Prestes, 2000).
Ferreira chegou ao Pará em outubro, iniciando seus trabalhos pela
ilha de Marajó. Em 1784, partiu para o Rio Negro, que percorreu até a
fronteira, e em seguida retornou para Barcelos, a capital da capitania de São
José do Rio Negro. No final de agosto de 1788, subiu o Rio Madeira e o Guaporé,
chegou a Vila Bela, capital de Mato Grosso, em 1789, sendo acometido de malária
durante a viagem. Seguiu para Vila de Cuiabá em 27 de junho, descendo pelos
rios Vila Cuiabá, São Lourenço e Paraguai, voltando para Belém em janeiro de
1792 para regressar a Portugal.
Casou-se com Dona Germana Pereira de Queiroz Ferreira em 16 de
setembro de 1792. Regressou a Lisboa em janeiro de 1793, quando foi nomeado
oficial da Secretaria Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos.
Em 25 de julho de 1794, foi condecorado com a Ordem de Cristo e, em 7 de
setembro, assumiu o cargo de diretor interino do Real Gabinete de História
Natural e Jardim Botânico. Passou a vice-diretor em 11 de setembro de 1795. No
mesmo ano, foi designado administrador das Reais Quintas e, posteriormente,
deputado da Real Junta de Comércio. Em 24 de julho de 1807, ganhou um Ofício na
Alfândega do Maranhão, vindo a falecer no dia 23 de abril de 1815.
Viagem
filosófica pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá
A obra de Alexandre Rodrigues Ferreira representa uma preciosa e
completa fonte de informação para o acesso à visão da Amazônia do século XVIII.
Traz contribuições para os diversos campos da pesquisa, desde a história
política até a história do cotidiano, faz uma detalhada descrição das riquezas
existentes na Amazônia, além de uma importante referência etnológica ao
descrever e comparar os povos do Novo Mundo com os europeus.
Sem dúvida, afirma Costa (2001), as grandes viagens marítimas
anteriores à expedição de Alexandre Rodrigues Ferreira trouxeram grande avanço
para ampliação do conhecimento sobre a geografia dos continentes, agregaram
inúmeras informações acerca dos reinos animal, vegetal e mineral, bem como
contribuíram para desfazer mitos e descobrir povos com novas culturas. Porém,
não foram suficientes para desvendar as terras interiores.
Nesse sentido, Humboldt (apud Costa, 2001) afirma que só é
possível conhecer verdadeiramente um lugar quando se penetra seu interior, pois
é justamente aí que consiste a possibilidade de conhecer sua fauna, flora, a
composição do solo e, especialmente, os povos que o habitam. O continente
americano não era uma exceção, e a exploração de parte do território amazônico,
da capitania de Mato Grosso e Cuiabá fazia parte do acordo contido nos tratados
assinados entre Portugal e Espanha.
Por força desses tratados (que definiam suas fronteiras com base
na ocupação efetiva) firmados entre as duas colônias ibéricas, a expedição
filosófica chefiada por Alexandre Rodrigues Ferreira foi idealizada em 1778 por
Martinho de Melo e Castro, ministro da Secretaria dos Negócios da Marinha e
Domínios Ultramarinos, com o intuito de agregar o interesse científico e
econômico ao caráter político-militar das comissões de demarcação (Costa, 2001;
Prestes, 2000).
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